Na quarta-feira (12/06), a Assembleia Legislativa do Paraná sediou a audiência pública “O Futuro do Transporte Coletivo de Curitiba: Rumos e Desafios”, promovida pelo deputado Goura (PDT). O evento reuniu sindicalistas, estudiosos, políticos e especialistas para discutir o modelo de transporte público que Curitiba adotará nas próximas décadas, visando a ampliação do uso e a melhoria da qualidade do serviço.
O deputado Goura destacou a urgência de debater um novo modelo de transporte, uma vez que o atual contrato de concessão se encerra no próximo ano, após 14 anos de vigência. Ele apontou que o sistema de transporte público de Curitiba, que já foi um exemplo, enfrenta atualmente uma queda significativa no número de passageiros.
Em 2010, foram transportados 23 milhões de passageiros, número que caiu para 9,3 milhões em 2024. Goura propôs incluir no novo edital a redução da tarifa, a acessibilidade e a intermodalidade, além da implementação de um bilhete único que permita múltiplas viagens.
Curitiba possui mais de 250 linhas de ônibus, integradas a 15 municípios da Região Metropolitana, operando em mais de 60 linhas intermunicipais. Segundo a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), houve uma redução de 28% no número de usuários nos últimos sete anos, com uma média de 62,9 milhões de passageiros em 2022, comparado a 87,5 milhões em 2015. Esta tendência de queda acompanha o cenário nacional, onde a diminuição foi de 24,4% entre 2019 e 2022, conforme dados do Anuário 2022-2023 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos.
O pesquisador Lucio Gregori defendeu uma mudança de abordagem no custeio do transporte público, argumentando que a tarifa não deve ser considerada o custo do sistema, mas sim a receita. Ele destacou a necessidade de financiamento do transporte público por parte de Estado e União, não apenas pelo município, e sugeriu a remuneração das empresas por quilômetro rodado, independente da rentabilidade das linhas. Gregori propôs a implantação da tarifa zero como solução.
A engenheira civil e pesquisadora Tainá Andreoli Bittencourt ressaltou o impacto negativo das altas tarifas sobre a atratividade do transporte público. Com uma das tarifas mais caras do Brasil, Curitiba torna o transporte inacessível para os 25% mais pobres da população, que gastam 22% de seu orçamento mensal com duas viagens diárias. Ela sugeriu a criação de mecanismos alternativos de financiamento, como a cobrança por estacionamentos rotativos e a contribuição dos empregadores, para sustentar o sistema de transporte.
Questões de acessibilidade foram levantadas por Enio Rodrigues da Rosa, diretor do Instituto Paranaense de Cegos, Roberto Leite, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Família, e Ricardo Mesquita, representante da população. Eles destacaram a falta de acessibilidade para pessoas com deficiência nas estações tubo e ônibus, e a necessidade de atender às obrigações previstas na Lei da Mobilidade.
Vereadores de Curitiba também participaram do debate. Herivelto Oliveira discutiu a experiência da tarifa zero em outros municípios, Giorgia Prates abordou a dificuldade de acesso ao transporte público de qualidade nas periferias, e Marcos Vieira enfatizou a oportunidade de criar um novo modelo de transporte com o fim do contrato atual, além de apontar a falta de acessibilidade no sistema.
Ana Clara Nunes, do Movimento de Trabalhadores por Direitos da Frente Tarifa Zero Curitiba, reforçou que a tarifa zero permite acesso a outros direitos fundamentais como educação, saúde e trabalho. O professor Lafaiete Neves, especialista em transporte público, também contribuiu com o debate.
A audiência pública destacou a necessidade de inovação e mudança no sistema de transporte público de Curitiba, visando torná-lo mais acessível, eficiente e integrado para atender melhor a população nas próximas décadas.